O tempo

Atribuem esse texto à Heiddeger:

“Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de todos os povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente então — reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora?
A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo…
O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas.”

Texto adaptado de original de Martin Heidegger.

Fonte:

http://www.sobraphe.org.br/home.swf

 

 

Depois de muita reflexão em torno do assunto… (aliás nem foi uma refleão espontânea, pois foi necessário desenvolver o tema para apresentação de um trabalho), eis o meu recorte:

Tempo no enfoque tradicional

Que horas são?

Agora é hora de falar sobre o tempo tradicional, o tempo regulado por instrumentos.

 Os medidores de tempo convertem a contagem numa sucessão de “agora” independentes, e o tempo contado passa a ser um curso temporal objetivo. Heidegger identifica ao conceito de tempo natural ou vulgar a definição do tempo na Física de Aristóteles – a medida do movimento segundo o anterior e o posterior –, que Heidegger (Nunes, 2002). Augras salienta que “o tempo é apenas um ponto de vista numa perspectiva biológica. É uma direção irreversível para o indivíduo e sua espécie” (p. 27)

O caminhar do tempo não é percebido por todos da mesma forma, por isso Augras justifica com bastante propriedade que “grande fonte de equívocos em psicologia deve-se ao enfoque tradicional do tempo” (p. 26) que é o tempo do relógio, dos cronômetros, das agendas; é o tempo delimitado de cada ação, de cada comportamento, de cada reação. Os equívocos ocorrem neste contexto porque se um sujeito responde à um estímulo fora do tempo previsto, poderá estar fora da curva da normalidade.

A Análise Experimental do comportamento é um exemplo disso, pois em determinados estudos, os ratos devem receber alimentação imediata ao bater na barra para que seu comportamento possa ser reforçado e caso este reforço falte seu comportamento (pode) entrar em extinção. Um segundo depois pode ser tempo demais.

A partir dos estudos com animais, os estudos com seres humanos puderam ser pautados através de medidas de tempo e quantidade (tantas doses de medicação de tantas em tantas horas), porém nem todos respondem da mesma forma. Porquê?

A essa questão, Augras responde que o tempo é extensão e criação da realidade humana, dimensão do mundo e orientação significativa do ser. Refere-se à Heiddeger quando define o tempo “como horizonte de compreensão do ser, a partir da temporalidade como componente do ser” (p. 27)

Sendo o tempo um horizonte de compreensão, e se cada ser-no-mundo tem uma compreensão diferenciada, logo a percepção de tempo também é diferenciada por cada um. Por isso que Augras (op cit) situa o tempo como algo exterior ao homem.

Assim sendo, entende-se que o tempo tradicional é aquele criado pelo e para o homem a fim de organizar a vida em sociedade num mesmo compasso. O tempo social consiste no tempo das escolas, do trabalho, dos esportes, etc.

Mas existe o tempo biológico, aquele do amadurecimento físico: andar, ficar em pé, a maturação sexual, a menopausa, etc. Dentro deste tempo existe o tempo diário de cada um, conhecido como Ritmo Circadiano que é o tempo de dormir, de acordar, de comer. Sobre isso Augras ressalta que “é o organismo que escolhe quais  informações são para ele aproveitáveis, quais são espúrias” (p.30)

Este tempo biológico e circadiano, se não forem interpretados como aproximações, também são fontes de equívocos, não só na psicologia, mas em todas as ciências humanas: algumas correntes da psicologia do desenvolvimento determinam que a idade adequada para a criança iniciar seus conhecimentos escolares formais é de 6 a 7 anos. Se a criança antecipa seu desejo de saber pode ser classificada como “precoce” e, se ao contrário, retarda seu interesse pelo conhecimento pode ser classificada como “deficiente cognitivo”           

Da mesma forma, muitos conflitos de interesses surgem: não pela falta de compasso do tempo tradicional (os relógios funcionam da mesma forma para todos), mas pela falta de compasso interno, de percepção de tempo para cada um. Se observarmos a história da humanidade, veremos que algumas sociedades já conquistaram o espaço sideral, enquanto outras ainda vivem em tribos, em pleno século XXI. Não se trata de progresso ou atraso, mas da forma com que cada sociedade lida com seu tempo e interesses. Aqui tem-se outra fonte de equívoco, pois as sociedades “atrasadas” são facilmente dominadas pelas “adiantadas” que usam seu tempo para desenvolver armas de destruição em massa.

No que concerne à sociedade pós-moderna, o dasein olha mais para o relógio do que para seu semelhante; a visita àquele ser-querido fica relegada às brechas na agenda, ou para as férias, ou final de ano, período de descanso do dasein, concedido para viver propriamente, para ser-com-o-outro. Ainda assim, a troca de presentes é mais freqüente que a troca de abraços e de olhares ternos.

Um exemplo disso é a citado na música de Stevie Wonder[1]

Nenhuma constelação do sol

Nenhum dia das bruxas

Nenhum obrigado por toda alegria que você traz no Natal

Mas o que é isso, tão velho e tão novo

Para encher seu coração, como nenhuma das três palavras jamais fariam

Eu só liguei para dizer eu amo você

 

O autor liga para dizer o quanto a outra pessoa é amada, mas para chegar nesse ponto, tem de se justificar, pois causa estranheza que um ser ligue para outro sem que haja motivo.

3.1 Reflexão: “O tempo não para”

A fim de refletir sobre o Tempo no Enfoque tradicional, propomos uma reflexão em torno da música “O tempo não para” que permeia a história de vida de seu compositor, Agenor de Miranda Araújo Neto, que contraiu o vírus HIV numa época em que a ciência engatinhava nas pesquisas sobre AIDS. Isso equivale a dizer que a doença não tinha nenhum tratamento eficaz que amenizasse o sofrimento ou prolongasse o tempo vida de um paciente.

Augras ressalta que

o processo biológico é o fundamento do tempo individual. A sua mensagem é portanto ambígua já que pode ser sentida como perda ou ganho. Da mesma maneira, que as demais dimensões do ser-no-mundo, a vivência temporal norteia-se como um registro de significações que dela desprende, e que também modifica” (p. 30)

Ser soropositivo na década de 80 significava ter sua existência abreviada e carregar um estigma marginalizado. Mas o compositor não se deixou abater pela estigmatização, ressignificando sua existência, procurando dar um sentido autêntico, confirmando o pressuposto de Heidegger

Vida autêntica é aquela em que se realizam não apenas alguns aspectos do Dasein, mas sim o Dasein como  um  todo. Essa  autenticidade  exige  a  aceitação  lúcida  da  morte,  precisamente porque  a  totalidade  do  Dasein  apenas  pode  ser  revelada  na  sua  condição  de  ser-para-a-morte. […] Se a interpretação do ser do Dasein, enquanto fundamento da elaboração da questão ontológica fundamental, deve ser originária, ela deve trazer  à luz, de modo preliminar e existencial, o ser do Dasein em sua possível autenticidade e unidade” (ST2, p.12).   (Blasio, p. 7)

Concordamos com Blásio quando afirma que “o homem não dispõe sobre a ocorrência de sua vida, nem sobre seu término. Toda a tensão e grandeza do drama consistem na edificação da liberdade no meio de tanta coação (Blásio, p. 33).

A edificação da liberdade de existir de Cazuza entrava em conflito com o tempo de vida que ainda lhe restava

O mundo de Cazuza está se acabando[2] com estrondo e sem lamúrias. Primeiro ídolo popular a admitir que está com AIDS, a letal síndrome da imunodeficiência adquirida, o roqueiro carioca nascido há 31 […] definha um pouco a cada dia rumo ao fim inexorável[3]. […] De 68 quilos, ele passou para 40. Seu bronzeado já não esconde as manchas que lhe marcam o rosto. […] Ele agora não consegue andar sozinho, tem dificuldade em colocar uma fita no gravador, se cansa quando fala seguidamente e precisa de auxílio para realizar necessidades fisiológicas. O motorista é quem o carrega nos braços. (Veja, 1989)

Esse discurso midiático é pontuado de alusões ao tempo tradicionalmente mensurado (“o mundo de Cazuza está se Acabando”; “rumo ao fim inexorável”) que utiliza suas condições físicas para confirmar que o astro está realmente próximo do fim. Porém, Cazuza, um dasein como outro qualquer, não enxergava limitações em seu horizonte existencial, e mesmo marcado pelo sofrimento físico e pelo estigma, recusava-se a entregar-se a esse “fim inexorável” e continuou a viver cotidianamente: “No momento ele grava um disco, está fazendo um livro autobiográfico, compõe músicas e planeja um show”. (Veja, 1989). O cantor salienta que

É a minha criatividade que me mantém vivo”, […] “Meu médico diz que eu sou um milagre porque eu tenho tanta energia, tanta vontade de criar, e que é isso que me deixa vivo. Minha cabeça está muito boa, ela comanda tudo. (Veja, 1989)

Nunes Salienta que o Ser-para-a-morte é antecipar, projetar-se no porvir. A antecipação comprova-se como possibilidade de compreender seu poder-ser mais próprio e mais extremo, ou seja, enquanto possibilidade de existir” (2002).

Dentro deste contexto Cazuza é um ser-para-a-morte, que embora conhecendo suas limitações existenciais, não se deixa abater, apropriando-se da existência, enfatizando o agora, o presente, o hoje e assim vivencia o presente autenticamente conforme é mostrado no recorte abaixo

No quarto ao lado do meu estava um rapaz que passava os dias andando pelos corredores, com ar deprimido. Cheguei perto dele e abri o jogo, dizendo que para os aidéticos não havia cura, mas só paliativos, e que era bom aproveitar. O rapaz ainda tentou negar as evidências. “Mas eu não estou com Aids, minha mãe me disse que não há nada definido.” Com a crueza que lhe é habitual, Cazuza foi direto à ferida. “Deixa de ser bobo, você e eu estamos com Aids, e o negócio é botar para quebrar porque a tristeza mata mais depressa”, respondeu. “O rapaz sorriu e talvez a partir daquele momento tenha começado a viver novamente” (veja, 1989)

Nos momentos de angústia, Cazuza demonstra algum arrependimento por não ter cuidado de si de forma adequada

Cazuza desconfia que está com Aids desde 1985, […]. Registra um de seus raros arrependimentos quanto a sua vida pregressa. “Se nesse começo eu tivesse ido logo a um médico, hoje estaria muito melhor.” (Veja, 1989)

Embora cazuza continuasse vivendo normalmente dentro de seu cotidiano, trazia dentro de si a angústia de saber-se como um ser com a existência abreviada. Essa angústia é expressa em vários trabalhos, mas para fins de aproximação com os conceitos de Heidegger, usaremos trechos da letra de “O tempo não para” que é um desabafo, declarando em seus  versos  sua revolta  contida e desesperançada frente ao irremediável. (Elias-JR, 2010)

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara

 

Ser “um cara” é ser-aí, é ser um dasein que carrega consigo a alegria de ser forte e a angustia de saber-se finito.

Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

 

Este trecho expressa sua angústia perante a limitação existencial que a doença lhe impôs.

 

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

 

A expressão “O tempo não para” neste contexto pode ser interpretado como o tempo tradicional que os relógios marcam sem parar. O poeta espera um por-vir que poderia (quiçá) trazer algum bálsamo para suas dores físicas. Os “Dias sim, dias não” retratam a forma como a angústia e o alívio se alternam dentro da existência limitada.

 

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para

 

Não será possível conhecer exatamente o que o autor quis dizer com esse trecho, mas aparentemente as expressões “A tua piscina tá cheia de ratos”  e “Tuas ideias não correspondem aos fatos”, simbolizam as atitudes naturais que o compositor vivenciou durante sua doença.

 

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para, não, não para

 

O poeta vê o passado repetir o futuro, referindo-se à condição ontológica factual da existência, uma vez que nascer é passado, é ser-sido; e futuro é o por-vir, é antecipar-se à finitude. O Museu de grandes novidades iconiza a impermanência dos bens de consumo, característica da sociedade consumista pós-moderna do momento presente

 

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha num palheiro

 

Procurar  agulha  no  palheiro  revela  a  dificuldade  em  que  o  poeta  se encontra frente à finitude.

 


 

4. Tempo no enfoque Heideggeriano

E como Heiddeger conceitua o tempo?

Ele não o faz de forma fechada, como na física de Aristóteles, e sim como “Horizonte de compreensão do Ser”.

Ele fala sobre pela primeira vez sobre conceito de tempo em sua conferência de 1924 e retoma o assunto na segunda parte (não publicada) de Ser e tempo em 1927. Para ele, “analisar o tempo é observar o homem em sua maior contradição: a tensão entre a permanência e transitoriedade, poder e impotência, vida e morte” (Augras, p. 27), por isso este tempo não pode ser contado pelo calendário. O ser é agora, está sendo, produzindo suas vivências e construindo um por-vir, por isso que Augras afirma que “ o tempo biológico envolve um presente que encerra implicações passadas e futuras” (p. 29). E a mesma autora ainda salienta que “ o tempo não é uma intuição essencial, necessária à orientação do homem. É antes um edifício defensivo para fazer de conta que o homem é poderoso, que a civilização permanece e que o sentido da história é o sentido do ser”

Isso equivale a dizer que todos os mecanismos de controle de criado pelo homem sempre tiveram como objetivo controlar o tempo de toda a sociedade e nivelar a existência. Mas existe o tempo de cada um, o tempo que não pode ser controlado, que é sentido, que é vivido. A mesma situação pode ser vivida para uns como demora e pra outros como rapidez, pois depende do interesse de cada dasein.

Se o tempo no enfoque tradicional é pautado pelos medidores, para Heiddeger é o tempo do ser, de apropriar-se de si-mesmo. Nessa abertura de si-mesmo está implícita a apropriação da própria finitude. Ao percorrer a questão do tempo, Heidegger, percebeu uma forma original de pensamento do problema temporal e de outros  problemas  tais  como  finitude,  morte  e  angústia, pois nota em  seus  estudos  sobre  o  protocristianismo  e  os  gregos  pré-socráticos,  a  vida  em  sua  facticidade  no  aqui  e  agora,  a experiência vivida de fato – termos que desembocarão mais tarde em seu conceito Dasein. (Blasio, p. 5)

 A vida deve ser compreendida  a  partir  do  ‘como’  de  sua  realização,  no movimento  pelo  qual  ela  vem  a  si  mesma.  Fenômeno não  é  apenas  o  que  é  experienciado, mas  também  o  modo  de  experienciar  o  que  é  experienciado,  o  como,  estritamente  entendido como  o  método,  no  sentido  aristotélico  de  caminho,  e  não  no  sentido  de  uma  técnica.  Essa compreensão do conceito método é, para Heidegger, nada menos do que temporalidade. (Blasio, p. 3)

De acordo com o pensador,  a  ontologia  clássica  chegou  a  compreender  o  ser  a  partir  do tempo,  mesmo  quando  opôs  o  ser  ao  devir,  mas  ela  não  teve  um  saber  expresso  dessa  função ontológica fundamental do tempo, considerando-o apenas como um ente a par de outros. Platão e Aristóteles compreenderam o ser a partir do tempo ao determinar o ser como constantemente disponível, presente.  Mas esta significação  temporal  permaneceu  oculta.  O que  significa  que  o  ser  do ente foi compreendido em relação a um modo determinado do tempo, o presente (Blasio, p. 5)

O intratemporal rege a preocupação com o mundo circundante; dominado pelo “presente” e sob a perspectiva do cotidiano, ele estende-se indefinidamente em cada “agora” caracterizando-se como objeto de preocupação. (Nunes, 2002)

No entanto, é preciso não esquecer que o intratemporal deriva da temporalidade. Mas ao derivar da temporalidade, o intratemporal modifica-lhe a ordenação dos êxtases, pondo na dianteira o presente em função das coisas ou objetos na direção dos quais se temporaliza. Essa primazia do presente se traduz no efeito de nivelação dos “agora”. (Augras, 2002)

O conceito de “temporalidade” trata dos três modos de temporalização (porvir, ter-sido e atualização) e trata das estruturas existenciais do cuidado a partir da decisão antecipadora, como modos de temporalização. Ela refere-se ao contexto a partir do qual o ser do cuidado pode ser compreendido em sua totalidade estrutural, isto é, refere-se ao sentido do ser do cuidado.  (Vanny, 2009).

4.3 Reflexão – Antes de Partir

 

Título Original: The Bucket List.
Origem: Estados Unidos, 2007.
Direção: Rob Reiner.
Roteiro: Justin Zackham.
Produção: Alan Greisman, Neil Meron Rob Reiner e Craig Zadan.
Fotografia: John Schwartzman.
Edição: Robert Leighton.
Música: Marc Shaiman

Sinopse:
Carter Chambers (Morgan Freeman) é um homem casado, que há 46 anos trabalha como mecânico. Submetido a um tratamento experimental para combater o câncer, ele se sente mal no trabalho e com isso é internado em um hospital. Logo passa a ter como companheiro de quarto Edward Cole (Jack Nicholson), um rico empresário que é dono do próprio hospital. Edward deseja ter um quarto só para si mas, como sempre pregou que em seus hospitais todo quarto precisa ter dois leitos para que seja viável financeiramente, não pode ter seu desejo atendido pois isto afetaria a imagem de seus negócios.

Edward também está com câncer e, após ser operado, descobre que tem poucos meses de vida. O mesmo acontece com Carter, que decide escrever a “lista da bota”, algo que seu professor de filosofia na faculdade passou como trabalho muitas décadas atrás. A lista consiste em desejos que Carter deseja realizar antes de morrer. Ao tomar conhecimento dela Edward propõe que eles a realizem, o que faz com que ambos viagem pelo mundo para aproveitar seus últimos meses de vida. Edward critica Carter, quando este joga fora usa lista pois não vê mais sentido após descobrir que tem no máximo um ano de vida, dizendo “ Eu diria o contrário. Agora é que faz sentido”. E assim os dois amigos seguem numa viagem pelo mundo, partilhando informações, vivências muita reflexão sobre a existência.

“Você só vive uma vez, portanto, por que não viver com estilo? Essa é a conclusão a que chegam dois pacientes portadores de câncer internados em um mesmo quarto, um irritável bilionário (Jack Nicholson) e um simplório mecânico (Morgan Freeman), quando recebem as más notícias. Cada um deles monta uma lista de coisas a serem feitas até o momento derradeiro, e juntos saem mundo afora para viver a maior aventura de suas vidas. Salto de pára-quedas? Perfeito. Pilotar um Mustang Shelby em alta velocidade? Feito. Admirar a grande pirâmide de Khufu? Feito. Descobrir a alegria em suas vidas antes que seja tarde demais? ”[4]

Conforme mencionado anteriormente “na abertura de si-mesmo está implícita a apropriação da própria finitude”. Assim, esses daseins resolvem se apropriar do pouco tempo de vida que lhes restam para viver autenticamente, fazendo coisas que deixaram de fazer em outras épocas da vida. Sem relógios ou agendas os dois saem pelo mundo afora. Essa nova forma de existir confirma o pressuposto de que o horizonte existencial é a compreensão do ser dentro da vivencia individual onde não existe passado e presente.  

Na conceituação de Biswanger, horizonte existencial é a compreensão do ser dentro da vivencia individual onde não existe passado e presente. (Augras 2002, p. 31). Heidegger chama “horizonte” o que divisa a visão, ou seja, é o que delimita o alcance da vista

Se o ser deve ser concebido a partir do tempo, e os diferentes modos e derivados de ser em suas modificações e derivações de fato são compreensíveis a partir da perspectiva do tempo, então assim é o ser mesmo  – e não apenas o ente enquanto está “no tempo”  – que se fez visível em seu caráter “temporal” (Santo apud SZ, p. 18)

Situar o Dasein como temporal é falar sobre a intencionalidade da consciência, a sua direção para os objetos. Isso Inclui sua significação do mundo e sua abertura ao cuidado de si, de sua existência e de seu ambiente.

3

2

1

Sob esse prisma o passado torna-se suscetível à ressignificação, pois o sentido dos acontecimentos muda à medida que o indivíduo constrói sua história.

E na construção dessa história, buscando um desfecho que fizesse sentido, os dois amigos vivem plenamente até o momento de sua finitide, incluindo o passado dentro do presente, antecipando-se ao futuro pois “ antecipação é a possibilidade de compreender seu poder-ser mais próprio e mais extremo, ou seja, enquanto possibilidade de existir” (Augras, 2002)


[1] I disk out to say I Love You

[2] Grifo nosso

[3] id

 

Seu comentário é significativo para o meu aprimoramento, por isso agradeço sua visita e seu interesse. Beijos